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Sobre a Qualidade e o Preço

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Beda

Château Lafite 1787: US$ 160.000,00
Domaine de La Romanée Conti 2001: US$ 8.000,00
Don Melchor 2002: R$ 225,00
Don Laurindo Gran Reserva 2002: R$ 121,95
Chapinha: R$ 4,00

Algumas pessoas com freqüência se assustam com a quantidade de algarismos que pode atingir o preço de certos vinhos e eu diria que a indignação pelos milhares de dólares por uma ou outra garrafa de raridade inigualável ou grande apelo de status é até fartamente justificável.

É importante, porém, não deixar de debater, especialmente com os mais recém-chegados ao mundo do vinho “de qualidade” (pra não usar o termo “fino”, que de tão mau-gasto já virou foi “magro”) sobre a escadinha de preços e qualidade que existe tão explicitamente no mercado, já que, apesar das aparências, esta não é uma questão necessariamente aleatória. De acordo com Bill Turretine, presidente da Turretine Brokerage – uma empresa americana que se encarrega de comprar e vender uva e vinho pronto para os grandes produtores – podemos realizar uma fórmula simples:

Valor do Produto = Qualidade + Relação Qualidade/Preço Percebida

Isso pode ser verdadeiro para um produto relativamente simples e dá uma noção de por onde começar, mas a cadeia de produção e distribuição de vinhos é tão ampla e complexa que se torna difícil para alguém na ponta final perceber a quantidade de fatores que influenciam no custo e qual o real valor disso para ele mesmo.

Pois bem, porque o vinho custa o que custa?

Vamos começar com a Produção:

O primeiro, primordial e mais importante fator, é a uva.
Base da elaboração do vinho, a uva é o princípio do custo e sua qualidade e a quantidade de trabalho envolvida em seu processamento são os fatores que mais nos interessam.

Enquanto uvas produzidas em larga escala – por consequência com menor concentração dos componentes que depois irão caracterizar o vinho resultante – custam X, as uvas extremamente selecionadas, com até um terço do rendimento por hectare das anteriores, originárias de terrenos especialmente dotados de elementos que enriqueçam a bebida, podem vir a custar até 60X, incluindo aí na conta o potencial valor percebido que sua região de origem possa acarretar.

A diferença de custo passa, portanto, pela série de opções a que o enólogo tem acesso e que influirão diretamente no vinho produzido. De acordo com Christopher Fielden, da WSET, as principais são:

  • Mão-de-obra e trabalho requeridos: vinhedos isolados, em terrenos íngremes, etc. contribuem muitas vezes para frutos de qualidade superior mas possuem custos superiores, por exemplo, a impossibilidade de uso de maquinários agrícolas.
  • Custo e disponibilidade de mão-de-obra, o que varia de região para região.
  • Economia de escala: quanto mais vinho, maior a diluição do custos, mas menor a possiblidade de se obter alto nível de qualidade.
  • O grau de seleção das uvas, o que constitui trabalho de custo elevado. Além disso, material descartado = menor quantidade de produção.
  • Rendimento: maior quantidade de uvas produzidas permite uma divisão dos custos fixos melhor, enquanto produções reduzidas podem resultar em maior qualidade.
  • Custo da terra: algumas regiões têm um custo extremamente elevado, seja por suas características – e conseqüente qualidade do vinho produzido – que por eventuais competições pelo uso da terra, como no subúrbio de Santiago do Chile ou Adelaide, na Austrália.
    Na Itália, por exemplo, há uma regulamentação MUITO estrita sobre o espaço de produção destinado ao vinho: praticamente não se pode plantar nada sem que outro vinhedo seja removido!
  • Equipamento utilizado: existe uma infinidade de diferentes equipamentos com diferentes objetivos, desde os mais simples (armazenamento do mosto a ser transformado em vinho) aos mais complexos (cones para remoção do excesso de álcool através de osmose reversa). Cada um deles tem seu custo e sua utilidade para a produção de vinhos de qualidade.
  • Barricas: uma barrica de carvalho francês, reconhecidamente o mais desejável na produção vinícola, pode custar de 700 a 800 euros e não é aproveitada por mais do que 3 ou 4 anos.

Já veremos como a embalagem, a distribuição e os impostos afetam os custos do vinho. Enquanto isso, para ler, em inglês, um exercício aproximado de elaboração de custo de um vinho, clique aqui.

Para ler a segunda parte deste artigo, clique aqui.

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