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Pontuando de novo

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Beda

A Helô, do É só um diário… virou leitora assídua do Peripécias e contribuinte séria para o debate sobre as notas. Lendo seu post (que comentava do meu post, que comentava do post do Elliot, que comentava do post do Lillie num meta-comentário quase cansativo), resolvi deixar meus “dois centavos” no blog dela, mas eles acabaram se tornando um texto…
Seguem aí meus “dois mil dólares”:

Quanto às pequenas variações na pontuação, entende-se que pontuações “técnicas” sigam um método que dá pontos de acordo com uma avaliação razoavelmente objetiva – pontos máximos são atribuídos a características pré-selecionadas dos vinhos, de forma a refletir “qualidade” de acordo com como estas características se mostram em vista de referências anteoriores.

Daí, assumo que:

a. Pontuações são ou altamente pessoais – uma vez que a parte “objetiva” faz referências à experiência pessoal de cada degustador e mal poderão ser interpretadas por terceiros – ou dependentes de um método afim entre os avaliadores participantes e entre eles e os leitores, para que todos falem a mesma língua.

b. Ao contrário do que parece, notas de críticos importantes são direcionadas a pessoas que tenham já alguma compreensão sobre vinhos, de maneira que estes possam DE FATO interpretar o que a nota significa em um contexto (histórico, geográfico, de estilo/objetivo e, especialmente, com base no que se sabe sobre o degustador).

A confirmação máxima desta impressão, para mim, deve-se ao fato de que o oráculo (termo helôístico) máximo do vinho gasta MUITAS páginas de seus materiais explicando como avalia, como começou a provar, o que ele pensa sobre vinho, o que ele pensa sobre as pessoas que fazem vinho e etc. – em teoria para que os leitores tenham premissas ao ler suas avaliações.

O problema está justamente em simplificar demais estas avaliações e torná-las meras referências numéricas, desconectadas das anotações do degustador, do contexto, da realidade do vinho que, na prática, não é matemática e sim relativa ao prazer sensorial.

c. Às pessoas que não têm um conhecimento mais profundo sobre vinhos, que não queiram ler as páginas e páginas dos autores sobre as pontuações, as diferenças e as características ou que simplesmente querem uma referência simples para a compra de uma garrafa, resta a nem um pouco rara SUGESTÃO DO DIA, VINHO DO DIA, VINHO DO MÊS, ou qualquer outra forma de indicação de críticos, degustadores, vendedores, sommeliers e etc.

(Na verdade, resta o muito árduo trabalho de provar vinhos e decidir o que é que lhes agrada! Chato, não?)

Estas sugestões, no geral, irão refletir a impressão pessoal de quem está sugerindo, normalmente com base em características que fazem sentido para o consumidor: preço, capacidade de harmonização, objetivo do consumo, etc. (“Vinho do dia para beber na piscina”, “Sugestão de vinho para acompanhar Peru de Natal”, “Melhor Valor pelo Preço na Argentina até R$30”) e não uma avaliação técnica feita com base em um método que interessa bem pouco – e é completamente inacessível – a quem simplesmente gostaria de aproveitar a noite com a taça na mão…

Não gosto de divulgar minhas notas. No geral, elas estão abaixo da média e as pessoas não entendem isto. Ainda não encontrei um método de avaliação que me desse a sensação de refletir em números a impressão que tive do vinho. De qualquer maneira, quando avalio (há degustações em que é impossível fugir de participar da avaliação) corrijo a nota ao final para que esta reflita minha sensação sobre o vinho, independente da soma aritmética (normalmente, sobem-se ou baixam-se um a três pontos).

Nas minhas provas pessoais, para efeito acadêmico, de registro e de comparação, venho dando “notas” relativas aos vinhos degustados. Elas seguem uma escala simplista (C, B-, B, B+, A-, A e A+) e partem de uma avaliação basicamente objetiva sobre a qualidade do vinho, sem planilhas e cálculos, passando por uma comparação entre os vinhos degustados na mesma seção.

Esta escala serve de referência pessoal para que possa comparar os vinhos e expressar uma opinião sobre sua qualidade relativa: basicamente, este ou aquele vinho me pareceram melhores (quase hedonisticamente, não tecnicamente) que um ou outro.

Mah, de novo: falei muito. Mas acho que desta vez falei de maneira mais prática, não? Espero que seja útil, seja pra quem está avaliando vinho que pra quem está só bebendo… Seguimos debatendo…

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  1. Beda,

    Boa! Dificilmente vc vê um cara como o Patrício Tapia dando 95 pontos num vinho, 100, a perfeição, não existe…

    As referências podem e devem ser comerciais como o "combina com Perú". Isso orienta o consumidor e o leva a fazer melhores compras…

    Fora isso, no meu blog adotei a escala de 01 a 05, representada por taças, mas 95% dos vinhos estarão entre 02 e 04 (aceitável a muito bom). Um vinho só é excepcional, quando a situação, a companhia são inesquecíveis!

    Forte Abraço!

    Cristiano
    Vivendo Vinhos

  2. Berna'!

    Num falei, num falei que era tudo subjetivo? Até mesmo o arredondamento dos números?? hehe
    Ainda não opino sobre o assunto mas isso há de mudar! Só estou esperando por um famoso curso para iniciantes…

    Um abraço!
    Keep up with the good work kido!

  3. De volta a Porto Alegre e à internet. Quase poderia copiar aqui a resposta que escrevi ao comentário do Cristiano no Diário.

    Não sou contra o sistema de pontuação criado pelo Parker. Como bem dizes, ele tem seus critérios e funções. Que certamente são úteis para os que tem cacife para comprar os vinhos que o Parker bebe e que compartilham com ele conhecimento técnico e paladar/olfato apurados.

    Sou contra a banalização que é feita dele. Mesmo considerando vinhos que em raras ocasiões compro, ainda assim essas notas me dizem muito pouco. E acredito que o mesmo aconteça para a maioria dos consumidores. Quantos sabem como essa nota é calculada? Além do mais, tenho certeza de que a maioria das pessoas que usa esse sistema não se encaixa no perfil que citei aí em cima. Tascar um número e encher linhas de adjetivos que às vezes beiram o absurdo (vide post do Eduardo/Pisando em uvas) pode fazer bem para quem escreve, mas não acrescenta nada para mim e muito menos contribui para o aumento de consumo do vinho no Brasil. (vide também post do Luiz/Glupt! indicando o artigo do Eric Asimov/NY Times)

    Acho que estou soando um pouco azeda, acho que é o calor. Mas de tanto ler, já estou aprendendo algumas coisas e quero começar a andar com minhas próprias pernas ainda bambas.

    Quem dá o próximo pitaco?

    beijo.
    ps – eu me empolguei e já tinha escrito um tratado aqui, mas aí seu windows teve um piripaque e perdi tudo…

  4. Bernardo, por sugestão da Helo, li seu post e compartilho da mesma opinião(vide comentário ao post da Helo)Parece que estamos chegando à um consenso nesta área.
    Abraços d eluz
    ÁLVARO Cézar Galvão
    "O ENGENHEIRO QUE VIROU VINHO"

  5. Opa!

    Vou fazer um registro. Recebí dois e-mails hj, um de um grande amigo e outro de um anônimo.

    Ambos me sugeriam colocar mais adjetivos e substantivos para os vinhos. Alegam que é a forma que estão acostumados e que entendem melhor a descrição do vinho.

    Admito que me causou estranheza, mas dialogando com o meu amigo ele disse que o vinho é uma bebida de três sentidos (paladar, oral e visual) e que descrições mais amplas trazem melhores relações entre o vinho e as sensações que alguém pode sentir bebendo o mesmo.

    Depois disso chego a conclusão que tem público para tudo…

    O importante é beber vinho e para mim blogueiro tentar ilustrar o que senti, o que e pq me agradou ou desagradou.

    Forte Abraço!

    Cristiano
    Vivendo Vinhos http://www.vivendovinhos.blogspot.com

  6. Cristiano, é por aí que estamos andando: em se tratando de vinho, o subjetivismo impera. Ou, como o Luiz/Glupt! definiu muito bem: quando todos concordam, alguma coisa está errada.

    Alguns preferem uma fileira de adjetivos, e se eles assim entenderem o líquido nos seus cálices, e mais dele beberem, tanto melhor. Que cada um encontre seu caminho e faça do vinho uma presença diária.

    Da minha parte, cansei de ler "na taça…", "na boca…" – complete os pontinhos com seus adjetivos. O último post do Eduardo/Pisando em uvas resume muito bem o que sinto: de tanto adjetivar, o pessoal tá abusando do dicionário. E ele não é o único que nesses últimos dias traduziu meu pensamento. Citado pelo Luiz/Glupt!, o crítico do NY Times se diz desapontado ao ver o vinho sendo reduzido a uma descrição de aromas e sabores, quando é muito mais interessante do que isso.

    E segue o baile!
    beijos.

  7. Desde que ingressei ne Confraria Bacco Ubriaco passei a pontuar vinhos. Não é obrigatório, mas resolvi dedicar-me a entender como encontrar um critério.
    É certo que cada confrade acabou criando um jeito subjetivo de pontuar, mas o fato é que no final de uma noite com 4 a 7 taças diferentes, todos conseguem traduzir subjetivamente (impressões pessoais… aromas disso, sabor daquilo, gostei, não gostei,…)e objetivamente (nota) o que acharam.
    É verdade que ao final fazemos uma média das notas que vai para o site da confraria. De fato, acaba que a média não reflete o pensamento de cada um, muito menos de todos, mas de qualquer forma cria uma identidade para a confraria e um ranking da Bacco Ubriaco.
    Em meu blog vivaovinho.blogspot.com , contudo coloco minhas notas pessoais. O fato de eu descrever o que penso de um vinho me ajuda muito a 1) de memória saber o que provei e o que senti (tomar notas, resumir, resenhar, .. são bons métodos de estudo) e 2) buscar nas anotações passadas elementos que esqueci e posso orientar minhas compras para a adega.
    Um último elemento-chave é a comunicação e a troca de idéias com amantes do vinho do Brasil e do mundo.
    Em minhas anotações, procuro descrever por comparação com outras coisas de nossa cultura (flores, frutas, objetos aromáticos, produtos industrializados) os aromas. É o único jeito de contar para alguém (meu pai, por exemplo) o que provei. De que adiantaria eu dizer que um vinho tem aroma de cupuaçu para alguém que nunca saiu do Rio Grande do Sul? Agora, se eu disser que tem aroma de abacaxi bem maduro, o número de pessoas que vai ter provado um abacaxi "doção" na vida cresceu muito e minha capacidade de comunicar aumentou.
    As impressões tanto objetivas (nota) como subjetivas são pessoais e revelam elementos sobre a cultura do avaliador.
    Só vejo beleza nisso.
    A necessidade de polemizar vem do culto a certos avaliadores. Cabe a nós, interessados no assunto, esclarecermos aos amigos que gostam de vinho que são apenas referências, dicas, uma segunda opinião para comparar com as nossas próprias anotações.
    Não deixarei de rankear de 0 a 100 porque me ajuda a não comprar de novo o que não gosto e a rechear minha adega com o que gosto.
    Não deixarei de comunicar com enófilos de toda parte porque o vinho tem trazido inúmeras pessoas boas ao meu convívio.
    Só entrei nesse assunto para dizer que não tem muita polêmica, não. Os radicais estão errados. Ter um método sempre ajuda, seja ele qual for.
    A única coisa que não serve é cultuar certos avaliadores como se fossem o próprio Bacco.
    Não cabe pregar o fim dos adjetivos, nem dos substantivos, nem das notas numéricas. Que tudo se some.

  8. Prezado Leonardo, começando com o que eu concordo: radicalismo não é mesmo uma boa, ter um método sempre ajuda e somar é sempre melhor do que subtrair.

    Isso declarado, algumas considerações. Assinei um mea culpa no post do Bernardo "O que o Bob diz". Reconheço que falei sobre o que não tinha conhecimento. A maneira como ele avalia (grupos de vinhos semelhantes, degustação às cegas, redegustação, etc) é muito detalhada e representa um determinado vinho dentro de um contexto.

    Mas continuo pensando que essas avaliações fazem sentido para um público restrito.

    E acho que o assunto é, sim, polêmico e merece um debate amplo. O que não impede que cada um entenda o vinho da maneira que lhe faz mais sentido.

    Um abraço e muito obrigada pela participação.

    1. Helô,

      uma coisa ainda não tratei nesses posts, mas tá na lista: gosto pessoal e afinidades. Por objetivo que seja o degustador, ele não tem como escapar completamente de suas afinidades pessoais…
      Tá mesmo na lista, viu?

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