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WineFuture, MediaFuture, EducationFuture

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Beda

Não é em todo lugar que a gente vê pessoas com interesses comerciais relativamente óbvios defenderem a conexão em rede com tanto afinco quanto pudemos ver nas apresentações do WineFuture. E, de fato, quanto mais os apresentadores tinham “responsabilidades” comerciais, menos ênfase colocaram no sistema de rede (embora eu pense que, no caso dos que estavam ali presentes, isso ocorra mais por falta de conhecimento e reflexão sobre o assunto que por simples necessidade de manter o controle sobre a informação).

De todo modo, o que mais me impactou foi o quão reais e práticos os discursos se mostraram. Ao contrário de muitas conferências, ao contrário de muitas apresentações elucubrativas e cheias de teorização, aqui se vêm exemplos factuais de como a conexão direta entre as pessoas vem alterando a percepção das mesmas sobre as coisas e seu acesso a elas (neste caso, obviamente, sobre os vinhos). Gary Vaynerchuck foi muito claro e enfático nesse sentido, já no primeiro minuto da sua apresentação:

“O que venho dizendo recentemente é que eu realmente acredito que a Nike e a Reebok deveriam colocar a ESPN fora do mercado. Que realmente acredito que a Sachs 5th Avenue e Neiman Marcus deveriam colocar a Vogue fora do mercado.”

Entendam que ele não está falando de “processar” as revistas e canais de tv. Nem de uma jogada de mercado para que as companhias citadas criem suas próprias revistas e canais de tv ou façam alguma espécie de takeover. Ele está falando em dar a palavra a quem interessa: quem se interessa, com o perdão do aparente pleonasmo. Mais que isso, em trocar palavras entre as partes interessadas, evitando mediações, filtragens e, acima de tudo, a concentração da “voz” nas “bocas” de poucos.

Ora, mas isso nada mais é que colocar em rede (e não necessariamente online, notem a diferença) momentos e coisas de nossas vidas. Não “debates” teóricos (embora também os debates), não decisões sobre o que deve e o que não deve ser feito. Momentos e coisas de nossas vidas. Os componentes de fato do nosso dia-a-dia, os objetos de nosso apreço. Vinho, comida, história, quadrinhos, tecnologia, carros, amor, marcenaria, família, cães e viagens. O que quer que seja.

Augusto de Franco, estudioso das redes e organizador da Escola de Redes, resume as quatro tentações a serem evitadas por quem “quer articular e animar redes sociais”. Nas palavras dele – explicadas com clareza no artigo “Uma Introdução às Redes Sociais“:

  • fazer redes de instituições (em vez de redes de pessoas),
  • ficar fazendo reuniões para discutir e decidir o que os outros devem fazer (em vez de, simplesmente, fazer),
  • tratar os outros como ‘massa’ a ser mobilizada (em vez de amigos pessoais a serem conquistados)
  • e, por último, querer monopolizar a liderança (em vez de estimular a emergência da multiliderança).”
E é justamente a “desobediência” a essas tentações o que a internet vem causando. Em muitos meios, inclusive na própria informática (alguém já ouviu falar em Google, Linux, Android?), na literatura (Kindle? Nook? Lulu.com?), na música (Napster? Torrents?). Que o digam os bloggers, blogueiros, jornalistas e wannabes brasileiros, com a “inexigibilidade” do diploma de jornalismo no país…
Um ninho de aranhas, uma planta aquática e uma rede de pesca. Será?
Um ninho de aranhas, uma planta aquática e uma rede de pesca. Será?

Em seu blog, o jornalista Luis Nassif  (que não sabe coisa nenhuma de vinho, até onde é possível ver), faz a mesmíssima constatação de Garyvee: “Daqui para frente, cada vez mais as empresas e associações serão produtoras de informação, acabando com essa intermediação espúria da mídia.” É triste, senão cômico ou digno de pena, observar quem ainda vê a mudança como algo que deveria gerar indenizações por parte do governo… É mais que hora de fazer esforço por diminuir o ruído. Por facilitar a comunicação, veicular a informação. Não é sem motivo que o Google, a Amazon, os grandes da internet vêm fazendo sucesso e, não se enganem, não é por caridade que eles fazem como fazem.

Aos produtores que queiram fazer chegar seus vinhos ao público, atenção às etiquetas, aos termos nos rótulos, ao acesso que esse público quer ter às informações. Aos “educadores” (sempre achei esse termo bem pouco inteligente. “Educação” e “instrução” são coisas beeem diferentes, embora tenham muitos pontos de contato) que queiram seguir ensinando, sigam aprendendo. Aos vendedores que queiram ganhar dinheiro, conheçam o seu produto. Aos jornalistas que gostem de escrever, aprendam a fazê-lo. Aos políticos que queiram receber votos, trabalhem muito por seus eleitores. Nas palavras de Vaynerchuck:

“E eu não tenho medo das pessoas que não têm formação e não sabem o que estão fazendo mas publicam coisas e influenciam as pessoas, porque o que eu sei e vi na última década no mundo da internet é que o creme sobe para o topo. Eu sei que as pessoas neste painel [aponta para Jancis Robinson, José Peñin] vencem tão bem no “novo mundo” quanto venciam na “mídia antiga”, sabem por quê? Por que ELES TÊM A MANHA. Porque eles sabem sobre o que estão falando. Eles têm qualidade.”

E, acima de tudo, a todos esses e mais: sejam claros e honestos. Porque estamos observando, com atenção. Estamos fazendo, nós mesmos. E somos muitos…

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  1. Finalmente o mundo do vinho está acordando para "o que o consumidor quer" tomando o tema da mão dos pedantes abastados e dos Grandes Gurus.

  2. Ótimo post Bernardo.
    Fiuqei impressionado com o Vaynerchuck, por trás da linguagem informal e conteúdo bacana, o cara domina muito bem as técnicas de apresentação.
    Curiosamente o jornal Valor publicou esta semana a revista Setorial "Comunicação Corporativa" com grande destaque para as redes socias e como ainda é um mistério para as corporações a forma de se relacionar com essas novas mídias.
    Abs,
    Marcel

    1. É Marcel, ainda tem muita coisa pra gente aprender. E o Brasil vive um misto constante de atrasado, tradicionalista e sem visão de futuro com a ponta da tecnologia e inovação. Vou tentar ver a revista do Valor. Abraço!

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