Mais notas rápidas de quinta à noite
Coisa esquisita esse mês de março, que começou com carnaval alagado de tanta chuva, correu com umas degustações no mÃnimo esdrúxulas e um ritmo de trabalho insano e terminou com a fenomenal notÃcia de que a revisão que pedi ao WSET resultou em aprovação completa na unidade de destilados, me deixando aliviado e só com um exame pendente pra fechar de vez essa etapa.
Pra começar, espumantes de preço camarada para festa de casamento do meu amigo mais antigo, provados em companhia de noivos e futuros convidados.
De longe, a pior compra (pelo preço) foi a da Mumm, argentina de má fama no meio do vinho que me surpreendeu desta vez por estar fresca e até agradável (o contrário das minhas últimas experiências com a maldita), embora não pelos R$32 pagos.
A melhor compra para mim (mas não para os noivos nem para a maioria dos amigos reunidos), é de longe a Miolo (R$29), com textura mais cremosa e aromas da autólise enriquecendo o nariz.
As duas Salton cheiravam demais a ovo pro meu gosto (tá sobrando sulfito aÃ?), mas a maioria só notou quando pedi que prestassem atenção ao nariz e não à s sensações de boca que os fizeram escolher a Brut como a melhor pelo preço (com leve açúcar sobrando, extremamente simples e unidimensional por R$19) e a Ouro como a melhor para alguns ou a segunda melhor para outros (bom equilÃbrio e frescor, evidentemente em outro nÃvel por R$28).
Em seguida, furei com os muito queridos amigos Gerson e Ricardo, que ficaram limitados pela minha ausência nos dias de carnaval a compartilhar comigo e Bel somente um vinho: o celebrado Kopar, da vinÃcola húngara Gere Attila, que ficou famoso por bater um Petrus em degustação à s cegas (hmmmm, sei). Da região de Villanyi, ao sul do lago Balaton (o maior da Europa), é um vinho agradável, com pimenta e as frutas vermelhas de praxe nos aromas e um fundo de resina. Leve mineralidade em boca, alta acidez e taninos ainda jovens (o vinho é de 2006) mas finos, com sabor de cacau e bala de amora e álcool bem equilibrado, longe, bem longe, do refinamento dos grandes Bordeaux.
Umas semanas depois, encontrei na carta do Arábia (sem a menor dúvida, o único lugar da cidade em que o menu e o serviço são impecáveis durante o Restaurant Week) o branco da Gere Attila por um preço muito atraente (o Arábia ainda por cima tem a polÃtica de colocar os preços dos vinhos exatamente R$10 acima dos preços de vendas oficiais das importadoras, o que faz pedir uma garrafa um movimento quase compulsório à mesa). O vinho era fresco (frutas brancas e cÃtricas, leve floral, acidez viva), equilibrado (textura agradável, álcool balanceado) e valia perfeitamente o preço. Bom exemplo do que é possÃvel obter com Riesling Itálico, normalmente neutra e desinteressante, se não houver pretensão, a vinificação for bem-feita e o preço for condizente com a proposta do vinho.
O inÃcio da última semana do mês prometia intensidade ainda maior do que a da correria das semanas anteriores, com maratona de visita de produtor e aulas insanas de biodinâmica com o carequinha André Ostertag e seus vinhos fermentados em ovos de cimento (mais por vir).
Daà pra frente a coisa descambou de vez: não bastasse a cervejada na casa do Chiquinho, a noite de ontem me fez pensar se o Rodrigo do Vino! anda lendo meu blog ou se tem alguém decidido a me fazer mudar de time (pro da cerveja, é claro – eu sou casado, poxa). Provamos tanta coisa que mal deu pra fotografar – pra não falar em anotar.
Os destaques da noite vão pra combinação da Paleta do Vino com Cascina Francia 2005, Barolo de Roberto Conterno, o interessante Pinot Noir de Miguel Torres, Mas Borràs 2008, a absolutamente deliciosa (e ácida) cerveja Mariage Parfait 2004, uma Geuze (estilo que eu nem sabia que existia) da cervejaria belga Boon e pra harmonização PERFEITA da No. 10 do monastério trapista de Rochefort com um queijo de veio azul do sul (Paraná?) envelhecido pelo Rodrigo ao ponto de extrema picância.
E no fim das contas, a opinião do noivo é: a minha praia é uísque e cerveja; definitivamente não o espumante…